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Mídias pt.2: As mídias Complexas para contar histórias.

Updated: Jan 7, 2023


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Nota 1: Esse é o terceiro artigo da série “Como Escrever Histórias”

Nota 2: Essa é a segunda parte do tópico "Mídias". Confirma o primeiro artigo no link:




Atenção! Esse post será longo. Essa é a segunda parte do “Capítulo” Mídias da minha série “Como Escrever Histórias”, disponível aqui no meu site e também no canal do YouTube: https://www.youtube.com/channel/UCs5TITUlgp2ohSUrYZ4ky0Q Na primeira parte falamos sobre as três mídias Básicas: Som, Imagem, e Escrita. As Mídias Complexas, segundo minha própria definição, é quando você mistura mídias básicas (Compostas). Quanto mais complexo é a mídia, menos individual e mais cara ela se torna. Mais importante, quanto mais complexa, menos interpretação do público é necessário.

Você ainda precisa de muitos músicos para tocar uma sinfonia, porém apenas 1 compositor para criar a peça. Mídias Básicas podem ser criadas por um único indivíduo (escritor, compositor, artista). Portanto, a mídia Básica é Individual.

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Por outro lado, mídias Complexas não conseguem necessariamente ser criadas por apenas 1 indivíduo. Portanto, mídia Complexa é Colaborativa. Um indivíduo pode, sim, escrever, tocar, gravar, editar, dirigir, colorir, desenhar, e pintar seu próprio trabalho, porém é difícil e não recompensante. Ninguém consegue ser bom em tudo, além de ter tempo infinito para produzir (Acredite em mim, eu tento todos os dias e todos os dias eu me frustro). Normalmente, o sucesso de uma mídia complexa depende de um time competente. Então, falemos sobre Mídias Complexas.


Quadrinhos Os Quadrinhos surgiram no final do século XIX, evoluindo para Revistas em Quadrinho durante o século XX. Até recentemente, muita gente tem preconceito com essa mídia, principalmente na forma como se é descrito seus leitores (Assista Big Bang Theory).

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Existem muitos tipos de Quadrinhos, os mais difundidos sendo os Desenhos Animados. A Caricatura era a primeira ferramenta do artista (cartunista) de demonstrar a realidade nos jornais. Normalmente elas são satíricas, exageradas, tentando provar um ponto (político, religioso, etc.), e sempre usada para desafiar o status quo ou ensinar lições morais. Mais tarde, a caricatura evoluiu para as Curtas (Painel de normalmente 3 ou 4 imagens), com personagens famosos como Charlie Brown, Calvin e Garfield. As Curtas se tornaram Revistas em Quadrinho (Heróis, Tio Patinhas, Turma da Monica), e finalmente se tornaram Desenhos Animados (veja história da Walt Disney), se tornando uma mídia excelente para Dramas de TV (Bojack, Rick and Morty, Archer). Enfim, Quadrinhos são sensacionais. É a fusão perfeita da imagem e das palavras. Essa mídia é perfeita para dizer histórias complicadas com grandes efeitos especiais por um custo baixo. Não possui textos longos (portanto, fácil de ler), tem de 6 a 10 imagens por página (portanto até 10.000 palavras, né). Além disso, existem enormes peças de arte como os trabalhos do Dave McKean (Orquídea Negra, Asilo Arkham) e histórias intrigantes como Maus, Watchman e Sandman. Infelizmente, Quadrinhos é uma mídia pouco usada.

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Assim como todas as mídias nessa lista, os Quadrinhos são colaborativos, portanto desafiadores. Você pode ter escrito o melhor roteiro do mundo, porém sem um artista, é o mesmo que ter nada. Para produzir um Quadrinho, você precisaria de (pelo menos) um artista e um escritor. Mesmo assim, para publicar um quadrinho você precisa de editores, gráfica, revisor, colorista, etc. Publicar um Quadrinho é mais barato que um Filme, contudo mais caro que um Livro de 150.000 palavras. Portanto, Quadrinhos são ótimos para qualquer história (sem exceção), porém demanda investimento e ainda tem muito estigma com o público em geral.


Som (De novo…) O som funciona tanto quanto mídia Básica quanto Complexa. Com relação a complexa, focaremos em histórias contadas via Áudio, por exemplo, Rádio Novelas. Mas quem ainda ouve Rádio atualmente? Ah, desculpe. Eu quis dizer Podcasts e Audiobooks.

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Podcasts é Radio do século XXI. Atualmente, essa mídia apresenta cursos de línguas, entrevistas e narrativas, muito usado para True Crime e histórias curtas. Não é uma mídia com um público tão vasto, mesmo assim tem seu charme. Audiobooks são similares, porém maiores em escopo e menores em efeitos sonoros (Apesar de ter a voz sexy de Cid Moreira). A melhor analogia é pensar que 1 episódio de Podcast equivale a 1 capítulo de um Audiobook. Diferente da Música (Mídia Básica), o ouvinte não tem que interpretar nada. É como um livro, tudo que você precisa saber, cada palavra, é entregue ao ouvinte.


Mesmo assim, quanto tempo você consegue realmente focar num Audiobook ou Podcast? Três minutos seguidos? Gosto de Audiobooks, mas no meu caso, eu tenho que ficar voltando e voltando o tempo todo para ouvir a mesma frase porque minha mente começa a divagar. O ponto é que é essa mídia é para ocupar tempo: você ouve quando está tomando banho, dirigindo, fazendo trabalho braçal ou esperando na fila do banco. Podcasts e Audiobooks são mídias passivas, o oposto de ler ou interpretar uma peça de arte. A informação é simplesmente jogada na nossa cara, sem parar, perdida em distrações no nosso cérebro de girico.

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No final das contas, é uma boa ferramenta para complementar a leitura. Funciona perfeitamente para mim: Eu lei normalmente antes de dormir (portanto, estou engajado ativamente na história) e, enquanto dirijo, continuo de onde parei no Audiobook. Me ajuda a ler mais rapidamente e, caso algo seja muito confuso (tanto escrito quanto áudio), eu sempre tenho outra mídia para me ajudar a entender. É como um Clube do Livro com apenas 1 participante. Graças a essa combinação eu consegui ler grandes (e tediosas) épicas como a Ilíada ou Dom Quixote. Portanto, Audiobooks e Podcasts são ótimos para histórias curtas que não demandam atenção incondicional do público. Também é uma mídia colaborativa e requer um roteiro, pesquisa, e uma voz interessante para a narração. Okay, uma pessoa sozinha consegue fazer um Podcast, mas que escritor teria o trabalho de passar sua história para Audiobook sozinho?


A Sétima Arte!

Finalmente, falemos de Filmes e Séries, outra mídia gigante e colaborativa. Diferente de tudo que discutimos antes, para produzir um Filme ou uma série de TV, você realmente precisa de uma equipe (Atores, diretor, câmera, fotógrafo, figurinista, estilista, engenheiro de som, compositor, produtor, roteiristas…). Em resumo, você precisa de DIN DIN, CONTO, BARÃO, CASCAIO, GRANA, PILA

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Filmes surgiram no começo do século XXI. Até então, o cinema era usado para documentar eventos cotidianos. A Viagem à Lua de 1902 foi a primeira tentativa de usar o cinema para contar ficções, nesse caso, uma história inspirada em Jules Verne. Muitas coisas aconteceram desde então, assim como diferentes movimentos artísticos: Expressionismo Alemão e Frances, Realismo, Escola Livre, etc. Alguns anos mais tarde, a TV foi inventada, transmitindo Filmes até então só vistos no cinema, além da nova forma: A Série de TV. Pinwright’s Progres em 1946 foi a primeira série de TV, a tentativa de gravar uma peça de teatro ao vivo (assim como qualquer outra comédia até os 2000, como Sai de Baixo por exemplo). O formato Teatro/ Comédia/ Série se manteve forte até 2004, quando Lost mudou a fórmula de barata, fraca em trama e episódica para grandes produções serializadas com a aparência de filme. A próxima revolução veio com o Streaming, que colocou a produção de Filmes e Séries em esteroide. Filmes e Séries são excelentes para contar qualquer história, principalmente horror. Afinal, as imagens e os efeitos sonoros são muito melhor para assustar do que algumas palavras num pedaço de papel. As oportunidades são infinitas… contando que seu orçamento também seja. Dinheiro é o problema dessa mídia. Tudo é extramente caro na indústria de Filmes e Séries, desde o salário dos atores até os efeitos especiais e cenário. Por isso, como em tudo na vida, qualquer produtora olhará apenas para oportunidade de lucro, não a qualidade do roteiro.

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Por exemplo:

  • Piratas do Caribe - em Águas Misteriosas, da Disney, foi o filme mais caro já feito (Até 2022) com um orçamento de 422m$ e um lucro líquido de 1,04b$ (2,5x de retorno - nada mal, né?).

  • O Mulan, da Disney, foi o segundo maior fracasso da história do Cinema, com um investimento de 250m$, mas prejuízo de 180m$.

  • A Bruxa de Blair foi o filme mais lucrativo da história, com meros 0,35m$ de orçamento e um lucro líquido de 250m$. Compare esses números com Mulan e pare para pensar nisso por um minuto.

Terminou de pensar? Pensa de novo… eu posso espero… Já que Dinheiro é o principal fator na produção de filmes, existem apenas poucos estúdios no mercado. Essas empresas gigantescas mantêm o monopólio no entretenimento, curando todo conteúdo em massa que você assiste. Mas e se um dia eles encontrarem meu roteiro e eu ter a chance de realizar um filme? Bem, não é tão simples assim. Mesmo que sua história tenha uma chance na grande tela, você será pago uma mixaria pelos royalties e terá sua história tão modificada que ela se tornará irreconhecível (porém, lucrativa). Isso é tudo que importa no final: LUCRO. Para de reclamar, rapá!!! Nem tudo é tão ruim. Existem inúmeras obras de arte no cinema que foram concretizadas simplesmente por lucro, porém se tornaram história graças a uma equipe competente e produtores visionários: 2001 Uma Odisseia no Espaço (Orçamento de 11m$ e Lucro líquido de 146m$), o Silêncio dos Inocentes (Orçamento de 19m$ e Lucro líquido de 273m$), Interstelar (Orçamento de 165m$ e Lucro líquido de 774m$)…

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Além do Dinheiro, existem limitações narrativas no cinema, como, por exemplo, ser difícil em mudar de estilo depois que a história começou (claro, existem exceções como Cidadão Cane, The Cabin in the Woods, e Na Ilha do Medo, que usam a limitação do meio como ferramenta de narrativa). Existem elementos narrativos que são muito difíceis de reproduzir em câmera, como conver pensamento (claro, existem exceções como Fleabag e House of Cards), e sentimento (depende da habilidade do ator), além de passar imagens inimagináveis, futurísticas ou fantasiosas. Devido aos objetivos financeiros e a limitação da câmera, os estúdios sempre escolhem investimentos fáceis com retorno imediato (Como a Disney, que grava 1 spin-off de Star Wars por semana), ao invés de produzir histórias originais e desafiadoras. Portanto, Cinema e Séries são perfeitos para qualquer história, contanto que se tenha conhecimento da limitação da mídia, e um orçamento gigantesco.

E essas foram as mídias complexas. Em resumo:

  • Quadrinhos:

    • Vantagens: É a combinação perfeita de arte e letras.

    • Fraquezas: Mídia colaborativa, mercado muito específico.

    • Bom para: Qualquer coisa.

    • Ruim para: Pessoas preconceituosas?

  • Audiobooks/ Podcast:

    • Vantagens: Você pode ouvir a qualquer hora ou lugar e requer nenhuma interpretação.

    • Fraquezas: É uma mídia passiva, fácil de se distrair.

    • Bom para: Histórias curtas, ideias, lições.

    • Ruim para: Histórias complexas que demandam atenção do ouvinte.

  • Cinema/ Séries:

    • Vantagens: Perfeito para qualquer história e acessível para qualquer público.

    • Fraquezas: É uma mídia massiva, cara, e depende de uma equipe grande para ser produzida. Além disso, seu sucesso é medido em Lucro Líquido.

    • Bom para: Qualquer história.

    • Ruim para: Atualmente, roteiros originais e desafiadores (ninguém irá investir se você não for famoso). Só existe espaço para spin-offs que ainda podem ser capitalizados e live-actions de filmes velhos e esquecidos (Fator nostalgia).


Obviamente, para toda regra existem exceções. Nós tivemos a chance de ver algumas durante esse artigo, portanto não perca a esperança! Seja você uma história de sucesso contra as exceções da mídia.

Lembre-se de escolher a mídia certa para sua história baseada nas limitações. Se você quiser usar uma mídia “não apropriada” para sua história (isso não existe. Qualquer mídia pode ser usada para qualquer história! Criatividade não tem limitações), use os pontos fracos da mídia a favor da história. E isso é Tudo! Próximo artigo será sobre gêneros. Fique ligado! Se gostou do post, curte e compartilhe! :)

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