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Mídias pt.1 - As mídias Básicas para contar história

Updated: Nov 28, 2022


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(Guernica - Picasso - 1937)

Nota 1: Esse post é uma continuação da minha série: “Como escrever uma história” no YouTube.

Nota 2: Essa é a primeira parte desse tópico. O dividi em 2 posts para não ficar tão grande. No próximo post falaremos sobre mídias “Complexas”.




Atenção! Esse post será longo.

Recentemente escrevi um artigo sobre o poder das histórias e como a Ficção está conectada a nossa evolução e DNA. Sem história, seríamos como os macacos no filme 2001 uma Odisseia no Espaço. Ficções nos permitem imaginar coisas além de nossa capacidade física.

Vivemos para realizar nossas ficções. Nossas sociedades funcionam devido as nossas ficções.


Entao, não seria legal ser o contador da história ao invés do espectador?

Se é isso que você quer, então…


Bora falar sobre mídias!

A Mensagem


Como qualquer outra forma de comunicação, toda mensagem precisa de um emissor, um receptor e um meio (mídia). Uma boa metáfora é visualizar uma pessoa através de um vidro:

  • Se o vidro é pequeno, você verá apenas uma fração;

  • Se o vidro está congelado, você verá tudo embaçado;

  • Se o vidro é vermelho, “todos os sinais vermelhos parecem como qualquer outro sinal” (Bojack S02E10 — “Yes and”).

Em resumo: Tenha cuidado com o “vidro” que você escolher. Lembre-se:

  • Toda mídia tem pontos positivos e negativos ⇾ Explore os positivos, e use os negativos a seu favor.

  • A mídia determinará a narrativa.


Entao, aqui está minha visão sobre as mídias “Básicas” (Mídias que dependem de um sentido para passar a mensagem).

Mídia Visual

Comecemos com o óbvio: A Imagem


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Um das primeiras imagens deixadas pelos nossos ancestrais foram marcas de mão em uma caverna na Argentina; Outro exemplo é um desenho de um touro na Indonésia. Ambos a mais de 40 mil anos atrás. Quais histórias nossos ancestrais tentaram passar adiante?


A arte evoluiu muito desde então, com diferentes focos em diferentes culturas. Estátuas, cerâmica e outras formas de arte plástica estão ativas há milênios: os gregos usavam vasos para contar histórias, assim como os egípcios usavam pinturas e estátuas (“Meu nome é Ozymandias, e sou Rei dos Reis: Desesperai, ó Grandes, vendo as minhas obras!” — Percy Shelley, “Ozymandias”).

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Uma pintura vale mais que mil palavras”, certo? Porém, quantas palavras são necessárias para contar uma história? São 1000 palavras suficientes?


Grandes artistas tentaram contar histórias via pinturas. Veja alguns exemlpos abaixo:


“Guernica” de Picasso tentou mostrar os horrores da Guerra pela representação do cidade bombeada de Guernica pelos Nazistas. (Imaem acima)


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Em “Duas Fridas” de Frida Kahlo é sobre dualidade. Uma única pessoa pode ser duas completamente diferentes. Como cada uma sobrevive a um trauma?


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Na Série “Os Papas Gritando” do Francis Bacon temos horror: A imagem de uma autoridade enjaulada gritando em agonia — uma metáfora da sexualidade supressa de Bacon.

Existem inúmeros exemplos, como a série “escura” de Goya, até as cenas religiosas de Caravaggio.


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É impossível nao se aprofundar nesse assunto...


Existem muitas técnicas e formas para arte. Mesmo assim, existem pelo menos duas grandes limitações narrativas:

  • Toda arte depende da interpretação do observador.

  • Uma imagem é limitada a apenas “1000” palavras (não exato) — como desenvolver tramas e personagens com apenas 1000 palavras?


Não recomendo pinturas para demostrar histórias complexas (Exceto se for uma história já conhecida), porém a recomendo para fábulas, horror e mistérios.

Som


Próximo: Som


Como descrevi no meu último post, desde a Revolução Cognitiva, os humanos passaram a se socializar e contar histórias. Voz e Música eram as principais formas de comunicação até a invenção da prensa. Afinal, de que outra forma o cidadão comum iria se informar? Arte e Livros eram limitados a igreja e aos ricos.

Histórias eram Faladas, Cantadas, e Encenadas (Artes Cênicas = Oral + Música)


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Música sempre foi uma arte secular, da qual a igreja tentava controlar. Em Roma, poesia era esporte olímpico, do qual o artista trovava com um instrumento (Alaúde, Lira). Danca é a arte de expressar sentimentos com movimento e música. Som, voz e movimento corporal sempre serão conectados.

É difícil discutir a história da música em apenas alguns parágrafos. A tradição clássica europeia nasceu em Paris (Leonin e Perotin — Século XI — Período Medieval), evoluída de ritos sagrados como em qualquer outra cultura.

A tradição grega voltou a moda na Renascença. Monteverdi evoluiu os madrigais em Operas (Secular) e Cantatas (Sagrada), formas depois exploradas por Vivaldi, Handel e Bach no período Barroco.

Enfim, a música clássica evoluiu de cantos para contraponto para harmonia para formas (Sonata, Sinfonias, Noturnos, Fantasias…) para a “não forma” para a “não harmonia” para música aleatória para 12 tons para Stravinsky para música de cinema para…


O mesmo se aplica ao secular, que evoluiu independente, mas sempre influenciou a música clássica. Novos gêneros emergiram ao longo dos anos (Gnawa, Andalusia, Blues, Samba, Reggae, rock, rap, pop…).

O quanto efetivo é o Som como forma de contar história? A voz humana é perfeita, e música é uma das grandes maravilhas do mundo… A nota ou intonação certa pode fazer você chorar ou se arrepiar; A pausa ou crescendo certo podem te surpreender. Nenhuma outra mídia consegue tocar tão profundamente a alma humana como o Som. Porém, o Som é uma mídia morta: Ele desaparece assim que você o ouve. Toda vez que ouvir novamente a mesma história, música, ou peça, sua percepção da obra será diferente. Por quê isso? R: O ser humano não é confiável. O Emissor:

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A qualidade da obra depende do artista (ou artistas). Cada iteração da história pode gerar detalhes diferentes.

  • Um pescador vai sempre aumentar o tamanho do peixe quanto mais ele conta sua história. Informação se deprecia em cada iteração. O melhor exemplo é o Telefone Sem Fio.

  • Quantos anos de prática um músico precisa para fazer parte de uma orquestra de mais de 100 indivíduos apenas para tocar algumas notas na 9.ª sinfonia de Beethoven?

  • Quantas horas um ator precisa treinar para entregar uma fala perfeitamente?

Se a obra nao for gravada, sua qualidade dependerá 100% do estado de espírito do artista. Além disso, dependendo do tamanho da história, quantos minutos você precisa para efetivamente desenvolver personagens e tramas? Pensa em Faroeste Cabloco e o quanto você tem que pensar na letra para entender o contexto e a trama.

O Receptor: Distrações, tendencias religiosas e políticas, cansaço, falta de contexto… Todos esses fatores vão alterar sua percepção de uma história.


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Pense em toda energia que você gasta só para ouvir aquele seu tio sabido de tudo falando de política?

Mesmo quando se é gravado, cada vez que você ouvir uma música, seu entendimento será diferente. Quanto do seu estado de espírito irá influenciar sua percepção? Mesmo letras tao obvias perdem o sentido em um ritmo romântico e catchy. Por exemplo, I Want to Break Free do Queen foi escrito por John Deacon. Mesmo assim, devido ao clipe e o refrão, todo mundo acredita ser um hino Gay criado por Freddy Mercury, apesar do Álbum creditar a música a outra pessoa.

Quantos grandes mal entendidos não existem no mundo da música? Every Breath You Take do The Police, Hey Ya do Outcast, etc.

Portanto, seria o Som uma mídia boa para contar histórias?

Recomendo usar Som para contar notícias, discussões políticas, lições éticas, aulas, histórias curtas (Fábulas, histórias de família, fatos interessantes…). Eu não recomendo para épicas ou histórias com escopo grande e complexo (exceto se você tiver uma grande equipe e muitas horas de palco).

Nossos cérebros são poderosas máquinas, porém horríveis para reter e interpretar informações. Por isso criamos a Escrita.

Escrita


Então, a escrita


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A escrita cuneiforme foi uma das primeiras formas, inventada pelos sumérios, alguns milênios atrás. O objetivo era registrar fatos como:

  • João tem 10 vacas;

  • Maria morreu aos 34 e deixou a casa para os filhos Huguinho e Zezinho.

A Épica de Gilgames foi a primeira história (que conhecemos) escrita, uma lenda então passada de pai para filho: as aventuras do herói Gilgamesh na terra dos mortos. Você sabia que os sumérios também escreviam poemas? Interessante né?

Portanto, a escrita foi criada para registrar a tradição horal (poemas, lendas).


Outros textos antigos não foram exceção: A Odisseia de Homero, Aenide de Virgilo, a Bíblia, livros de filosofia como a República de Platão (documentando os diálogos de Sócrates), Meditações de Marco Aurélio, Édipo Rei de Sófocles, além de tratados de guerra como a Arte da Guerra por Sun Tzu e livros de história como os de Herodotus. A tradição oral era registrada no papel (ou o que quer que eles usavam para escrever).


Depois da invenção da prensa, muitos autores surgiram, criando um mercado para contar histórias. E o resto, a gente já sabe. Existem várias categorias para escrita:

  • Poemas;

  • Contos;

  • Tratados;

  • Biografias;

  • Ficção;

  • Cronicas;

  • Fábulas.

Mesmo assim, seria a escrita a melhor forma de contar histórias? Existem, sim, aspectos negativos na escrita:

  • Pode ser tedioso (mesmo que recompensador);

  • A falta de dinamismo é uma barreira a ser controlada;

  • Não tem o mesmo efeito da imagem ou som;

  • Se sua história depende da descrição de imagens, seu texto ficará grande (como esse);

  • Gramática é uma barreira para quem escreve.

  • Vocabulário é uma barreira para quem lê.

Por essas razões, textos não são acessíveis a todo mundo e muitas vezes taxadas de meio “intelectual”. Alguns autores não ajudam a melhorar essa imagem, forçando você a ler com um dicionário na mão (sim, Clarice Lispector!) ou com um bloco de notas (você também, James Joyce!).


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Mesmo assim, palavras são perfeitas para qualquer história, independente do quanto fantástico e impossível for. A imaginação é o limite (Diferente de outras mídias). Com palavras, é possível expressar pensamento, criar mundos gigantes e infinitos em possibilidade, magia e tecnologia, personagens e tramas complexas, situações impossível, utopias, fazer você chorar e se enraivecer. NADA é melhor que um bom livro — por isso, é uma mídia que nunca morrerá.


Finalmente, terminamos as mídias Básicas. Em resumo:

Mídias Visuais

Vantagens: ótimo para drama e impressionar o público.

Desvantagens: É limitado a uma cena e depende da interpretação do observador.

Bom para: Histórias conhecidas e terror.

Mal para: Histórias longas e complexas.

Som Vantagens: Mídia perfeita para comover a audiência. Desvantagens: É pouco confiável se não gravada (E mesmo assim…). Bom para: Histórias curtas, debates, lições. Mal para: Histórias longas e complexas. Escrita Vantagens: Ótima para qualquer história, independente do escopo e complexidade. Desvantagens: Não é acessível para todos. Bom para: Qualquer coisa, principalmente impossível (Fantasia, Ficção científica). Mal para: Quem não gosta de livros?

Lembre-se de escolher a mídia certa para sua história. Use as vantagens a seu favor, e se insistir na mídia inapropriada (não existe isso de inapropriado…), use as desvantagens como ferramenta de narração. (Recomendo a leitura do livro “Entre os Corredores Obscuros” para entender a arte de usar as desvantagens de uma mídia a favor da narrativa).

No próximo post falaremos de mídias "complexas".

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