top of page

Gêneros - Parte 1

Updated: Dec 14, 2022


ree

É isso aí pessoal!

Aqui vai mais um artigo novinho da série “Como escrever uma história!”


Dessa vez, falaremos sobre Gêneros.

Já que esse tópico é grande, estarei dividindo esse post em duas partes. Aqui vai a primeira!


Gênero é um conceito fácil de se entender. Pense em Gênero como uma caixa. Uma caixa pode ser grande, quadrada, feia, com um formato específico, preta, rosa, hexagonal, ou cheia de glitter. Porém, independente do formato, possui um propósito único: proteger algo. Grandes caixas Épicas podem guardar um mundo de racas mágicas, terras extraordinárias, novas tecnologias, e intrigas. Em contraste, uma caixa pequena de True Crime pode guardar um mundinho pequeno como o nosso, com um incidente específico, algo tão importante que precisa ser contado.


Sou um guitarrista, acredite se quiser. Um case de Guitarra é construído baseado no modelo. O instrumento precisa encaixar confortavelmente na caixa, bem preso, pois senão não haveria proteção em caso de queda ou se alguém jogasse a guitarra de um canto a outro do palco. Portanto, existe um motivo do porque você não consegue encaixar uma Stratocaster num case de Les Paul. Pelo menos, como em Era uma vez no México, podemos encaixar uma metralhadora ;)


Gêneros são contêineres com limitações físicas que normalmente são respeitados. Todo Gênero possui regras, estilos, e tropes que o escritor deve considerar ao escrever (ou se rebelar contra).

Aqui falaremos das caixas mais importantes em Ficção, suas regras, e exemplos de histórias bem escritas.

Antes da Grécia antiga, não haviam classificações para histórias. Elas eram simplesmente Registros (Propriedade, Burocracia, Históricos) ou Religião (Mitologia). O conceito de Gênero foi criado por Aristóteles para classificar poesia, prosa, e apresentações (Performance). No fim das contas, essa Ideia se tornou uma forma muito útil de se classificar arte, particularmente em música, e teatro.


ree

São tantos gêneros, que a gente fica até perdido. Os Gêneros básicos, por sua vez, podem ser divididos em tantas Sub-Categorias… Mesmo assim, Romance tem que ter uma história de amor; Terror tem que ter sustos; Ficção Científica tem que ter high-tech… Enfim, é difícil fugir dos Gêneros básicos, mas é fácil criar novas sub-categorias ao misturar diferentes elementos. É por isso que temos, por exemplo, 20 sub-categorias em Suspense, ou Metal Rock.

Todo Gênero tem regras a ser seguida, e mesmo não publicadas no diário oficial da união, são conhecidas pelo público. Por exemplo, todo Romance tem que ter um final feliz, todo Terror tem que ter uma garota final, e todo filme de Velho-Oestetem que ter um duelo em frente do salon.

É aqui que as coisas ficam interessantes.

Será que um filme de Romance Velho-Oeste deve ter um duelo em frente do salon? Não necessariamente, mas deve ter um final feliz.

E um filme de Velho-Oeste com Romance deve ter um duelo? Claro que sim!


Espero que tenha entendido a diferença.


Quando você escrever, pense qual é o Gênero principal que moverá a trama para frente, e tenha outros Gêneros em mente para enriquecer sua história. Terror é sempre bom, pensa como seria legal se acontecesse no século XVII durante o período da escravidão. Que tal se o fantasma fosse o espírito vingativo de um escravo, matando todos que machucaram sua família? Quais são as implicações éticas dessa história? Quem é o vilão no fim das contas?

Claro que essa história já foi escrita: Assassin's Creed-Liberation, Jango Unchained, ou Candyman, além de muitas outras. É difícil ser 100% original atualmente. O ponto é: Ficções são mais interessantes quando se misturam diferentes Gêneros e elementos.


Tão importante quanto criar algo original é avisar seu público em qual caixinha de Gênero sua história se encaixa. Esse é o primeiro Contrato que você faz com o leitor, e um dos mais importantes, pois irá criar expectativas. Ao informar seu público que a história será um Terror, eles saberão que haverá sustos e cenas impressionantes. Se alguém não gosta de muitas emoções, essa pessoa pode fechar os olhos no momento de tensão. Por outro lado, quem realmente gosta de Terror saberá que terá mortes horríveis, sustos, e bastante supernatural.


Já falamos sobre o quão interessante é misturar gêneros, porém sabe o que deixa a história ainda mais intrigante? Sacanear com a expectativa do seu público. Pense em alguém consumindo um Romance que, de repente, tem um dos amantes transportado para o passado, transformando a história em uma Ficção Científica! Use elementos que seu público não espera para tirá-los da zona de conforto; brinque com os sentimentos, surpreenda-os com algo completamente inusitado.


Sério, você pode misturar o que você quiser, por exemplo um Suspense Noir em uma Distopia Fantasia. Pense como seria uma história dessas por 1 minuto.


Você ainda está pensando sobre o Suspense Noir em uma Distopia Fantasia? Não? Não se preocupe, eu posso esperar. Pense sobre isso!

ree

Em resumo, deixe claro o Gênero para não criar surpresas desagradáveis (por exemplo, impressionar uma pessoa que não gosta de se impressionar), misture outros Gêneros para deixar a história interessante, e surpreenda com algo completamente inusitado, mudando o rumo/Gênero no meio da história.


Olharemos agora para os Gêneros mais importantes, seus Contratos implícitos, regras, estilos e exemplos.


Nota 1: Devido à forma infinita de se categorizar uma história, eu estarei usando a do catálogo do ISBN, algo que será útil mais tarde quando falarmos sobre publicação.

Nota 2: Como já falado muitas vezes, falaremos APENAS DE FICÇÃO.

Existem inúmeras categorias no ISBN, portanto eu as agrupei baseado em similaridade:

Ficção/


  • Ação e Aventura (incluindo Histórias Marinhas, Velho-Oeste);

  • Comédia (incluindo Humor Negro, Sátira);

  • Drama/Tragédia (incluindo Guerra);

  • Distopia (incluindo Política);

  • Terror (incluindo Fantasmas, Gótica, Oculto, e Sobrenatural) e Suspense (incluindo Crime, Mistérios, Detetive, Noir e Psicológico);

  • Sagas Mágicas (incluindo Contos de Fada, Folclore, Lendas, Metafísica, Mitologia, Fantasia, Realismo Mágico e Visionário);

  • Ficção Científica.

Eu não falarei sobre outras categorias por serem muito vagas (Geral, Alternativo, Antologia, Biografia, Família, Histórico, Literária, Mashup, Medie Tie-In, ou Histórias Curtas);

Ou muito específicas (Africana, Asiática, Judia, Mulher Contemporânea, Herança Cultural, Gay, Latino, Árabe, Legal, Lésbica, Médica, Indígena e Aborigínea, Urbana);

Ou simplesmente não me interessa (Amadurecimento, Cristianismo, Erótica, Feriados, Religião, Romance, Esportes e Super Heróis).


Você não precisa ser especialista e conhecer todas as categorias que eu estou deixando de fora. Se algumas delas te interessar, misture-as na sua história. (Por exemplo: uma Distopia Crista — Handmade's Tale, ou Ação Africana — Jango Livre).

Ação e Aventura


Ação… É, está no nome! É rápido, audacioso, e daora bagarai. Uma boa história de Ação tem que ter MUITA AÇÃO (Bem mais do que a repetição dessa frase).


Estamos falando de Velocidade. Por exemplo, em livros são passagens rápidas. O escritor usará frases curtas, onomatopeias, diálogos e figuras de linguagem. O leitor deverá correr 10 páginas de texto em menos de um minuto, sentindo o suor no pescoço. Se um livro médio tem 4000 palavras por página, faca questão que durante uma ação ela não tenha mais do que 400, assim o leitor sentira a velocidade. Numa perseguição de carro a mais de 220 km/h, faça questão que seu leitor se sinta no carro.

Em filmes e séries, Ação tem vários cortes de cena, com situações intensas e de alto risco (Bay's Transformers, Nolan's The Dark Knight). Claro, que existem bons exemplos opostos, como no Demolidor (A série de Goddard, não aquele filme ruim) onde você tem cenas intermináveis de luta que, assim como num filme do Michael Bay, te faz comer todas as unhas da mão.


Histórias com apenas Ação são como aqueles duzentos milhões de filmes dos anos 90, previsíveis e faltando desenvolvimento básico de trama e personagens. Para mim, Ação é uma ferramenta, passagens da qual sua história fará o sangue da audiência correr.

Uma Aventura é concebida conforme a Jornada do Herói, conceito formulado pelo escritor e professor Joseph Campbell:

ree
  • Um Protagonista (ou alguns), uma pessoa especial é tirado de sua terra natal (normalmente por um acidente — O Mágico de Oz; por um mentor — Harry Potter; ou por uma escolha muito difícil — The Hunger Games).

  • Durante a jornada, nosso Herói conhecerá muitas pessoas extraordinárias, alumas tentando fazer mal, e outras ajudando ou juntando ao grupo. Muitos perigos serão enfrentados, mas como nosso Herói é especial, ele sempre vencerá.

  • Sempre haverá um Ponto Baixo na história, onde tudo parece perdido (A perda de algo ou alguém importante — O Senhor dos Anéis; A separação do grupo devido a um conflito — Tom Sawyer; Um desafio que o Herói é persistentemente derrotado — Dom Quixote).

  • Após vencer o Ponto Baixo, o Herói está pronto para o desafio final. Depois da última batalha, o Herói retorna para seu lugar de origem vitorioso e uma pessoa melhor.


Normalmente Aventuras são longas, portanto, bastante tediosas se sem Ação.

Ação depende de Aventuras, e Vice-Versa. A combinação das duas… muah! Perfeição!


Em termos musicais, pensa em Iron Maiden. Rápido, cheio de histórias e Aventuras, e te faz mexer a cabeça para além dos limites do seu pescoço.


Em suma, Ação = Velocidade. Aventura = Jornada do Herói.

Combine os dois (E mais gêneros) para deixar a história mais interessante.

Comédia


Humor é um dos Gêneros mais antigos, afinal humanos tem a necessidade biológica de rir desde os primórdios. Sócrates e Aristóteles descreveram Humor como “O ridículo que alguém não pode eticamente ridicularizar” ou “O feio que não causa nojo”. Em Latim, Humor significa Fluído Corporal, algo tao poderoso capaz de controlar nossa saúde.


ree

Esse Gênero é difundido em palavras, filmes, e, assim como no princípio de nossa existência, no boca-a-boca (Standups, piadas, trocadilhos). A parte mais difícil dessa categoria é fazer alguém rir sem deixar outra pessoa brava. Por natureza, comédia depende do ridículo. O sofrimento de um, é a alegria do outro, né? É bem difícil não ofender um grupo de indivíduos nesse gênero. De qualquer forma, precisamos rir da nossa própria desgraça para sobreviver nesse mundo cruel e indiferente (Humor Negro). Como sempre dizemos: É rir para não chorar.


Abaixo você verá alguns tipos de humor:

  • Humor Azul: Normalmente sexual e profano;

  • Humor Negro: Normalmente sobre temas perturbadores;

  • Burlesco: Ridicularizar peças famosas de arte para provar algo;

  • Cringe: Baseado em vergonha alheia;

  • Improvisação;

  • Piada interna: Normalmente limitada a um grupo e situação.

  • Mockumentary (The Office);

  • Comédia Musical (Mamonas Assassinas);

  • (…)


Humor sempre tem 3 etapas:

  • Introduzir os personagens e cenário (Exposição);

  • Criar uma situação absurda (Expectativa, Contexto);

  • Punch line, Ponto e Moral da história (Algo surpreendente).

Essa é a fórmula para qualquer comédia. Você introduz a história falando quem e onde estão as personagens. Depois, você coloca essas personagens numa situação completamente absurda (mas engraçada). Finalmente, você entrega a conclusão mais inusitada e inteligente possível.


Não existe melhor estudo de caso do que o Guia do Mochileiro das Galáxias do Douglas Adams. Durante 4,5 (ele morreu durante o último), Mr. Adams faz o leitor sebreviver as situações mais absurdas possíveis. Eu me lembro de ler esses livros no ônibus da escola, e as pessoas me encarando porque eu não conseguia parar de rir. Fica abaixo um exemplo:

  • Imagine o investimento de milhões e milhões de dólares e vidas, geração após geração, para criar o mais poderoso super computador que poderia existir, a única coisa (viva ou máquina) que poderia dar a resposta da Vida, do Universo, e tudo mais. (Exposição)

  • O computador finalmente está pronto, e o mais respeitável ancião pergunta: “Oh, grande computador, computador dos computadores! Qual é o sentido da Vida, do Universo, e tudo mais?

  • “Nossa! Que pergunta difícil, hein? Preciso computar, volte em 7,5 milhões de anos e darei uma resposta.

  • Muitas gerações passam, muitas outras pessoas morrem em guerras tentando proteger a sagrada máquina. Pontualmente 7,5 milhões de anos mais tarde, uma multidão rodeia o super computador, ansiosos pela resposta da Vida, do Universo, e Tudo Mais. Quando o momento chega, eles perguntam novamente e o computador responde: (Expectativa)

  • “42” (Inesperado)

ree

Mesmo achando hilário essa história, sei que não será engraçado para todo mundo. Comédia é algo bem individual, e é por isso existem tantas formas diferentes.


Existe algo interessante sobre ter os personagens mais idiotas possíveis passando por situações completamente incompreensíveis e se salvando por pura sorte. Essa é a ironia da Comédia (e, recentemente, sua queda em popularidade). Comédia não precisa ser lógica, apenas engraçada. Não precisa ser chique ou intelectual, apenas engraçada. Qualquer forma de comédia pode pegar mal atualmente, nesse século sério e super-realista. Quem riria hoje das piadas sexuais de Top Secret? Ou o humor corporal do Jim Carey? Ou das piadas Sexistas do Ghostbusters? Saiba que todo escritor anda em corda bamba ao escrever comédia, portanto ele/ela deve conhecer seu público. Por isso o Guia do Mochileiro das Galáxias é uma obra de arte: Douglas Adams sabia sua audiência (um bando de adolescente nerd!)


Enfim, mantenha o leitor engajado usando a regra dos 3 etapas da comédia. Tome cuidado para não ofender e, o mais importante, CONHEÇA SEU PÚBLICO!

Drama / Tragédia


Eu não sou especialista em Drama ou Tragédia, portanto minhas palavras aqui serão apenas opinião.


Drama é empatia.

Por exemplo, em histórias de Guerra (Anne Frank, O Garoto em Pijamas Listrados, A Menina que Roubava Livros, a Lista de Schindler — Todos livros adaptados para filme). Todas essas histórias, sem exceção, fazem a gente se perguntar “E se fosse comigo?”

ree

Drama imita a realidade, portanto nos toca no coração. Pessoas que não gostam desse gênero normalmente não gostam de se imaginar em situações difíceis, preferindo não pensar no impensável ou enfrentar uma realidade horrível. Drama sempre levantará a questão: Imagine se fosse você ou sua família.


Adoro Terror, como você já deve ter sacado, mas nenhum Terror consegue ser tao assustador quanto a realidade. Nenhuma história de Terror consegue capturar a dor da Guerra, a de perder alguém tão querido, ou sacrificar tudo por algo maior que você. De novo, imagine se fosse você!

  • Imagine se fosse você puxando o gatilho, mesmo sabendo ser errado.

  • Agora, imagine que você está do outro lado da arma.

  • Agora, imagine que você está assistindo à execução.

  • Agora, imagine que é você dando a ordem.


Isso é Drama. Aprenda a situação (se história, estude), escolha um lado, mas entenda todos os ângulos. Se você não consegue entender todos os lados, ter empatia por algo ou alguém que você despreza, Drama não é para você.


Devido a essa natureza “Real”, a maioria dos Dramas é baseado em fatos reais (ou momentos históricos). Portanto, pesquisa é chave nesse gênero.


Tragédia é um tipo de Drama, porém alegórico. Ela também tenta imitar a realidade, porém é mais mitológica e sempre tenta passar uma lição moral. Tragédias eram o Gênero preferido dos gregos (Sim, os gregos de novo).

Uma das Tragédias mais famosas é a de Édipo, um homem que inconscientemente cumpriu a profecia de sua vida simplesmente por tentar fugir dela. Ele casou com a própria mãe e matou o próprio pai, tudo porque tentou fugir do seu destino. A lição aqui é ninguem consegue escapar o próprio destino (não que Édipo tinha tesão pela mãe, Sr. Freud).

Em resumo, Dramas imitam a realidade, colocando o público no lugar do protagonista (Empatia), forçando a pergunta: “Imagine se fosse você!”. Tragédia é uma forma alegórica de Drama, feita para ensinar uma lição moral.

Isso é tudo pessoal (por agora). Falaremos do resto dos Gêneros no próximo artigo.


Em resumo:

  • Ação = Velocidade, poucas palavras, vários cortes de cena. Questão: Como fazer a audiência se sentir no meio da ação?

  • Aventura = Jornada do Herói.

  • Comédia = 3 etapas: exposição, expectativa, inesperado.

  • Drama = Baseado em realidade, empatia “Imagine se fosse você!”.


Até a próxima semana! :)

Comments


©2022 by Leo Marcorin. Da Dusty Door

bottom of page