A Ideia
- lmolivei
- Feb 16, 2023
- 15 min read

Oi!
Que tal falarmos sobre a Ideia.
O que é e quão complexa ela pode ser?
Nesse artigo, estarei explorando os conceitos de como adquirir e desenvolver Ideias em histórias. Será um artigo Prático, cheio de exemplos, que ajudarão você a tender melhor o que fazer antes de começar a escrever.
Esse é o primeiro passo para começarmos a escrever historias!
O que é a Ideia?
A Ideia é uma sementinha que entre na cabeça e te condiciona a pensar, pensar, e pensar. Quanto mais você a vislumbra, mais rega e aduba, ela brota. Dali, a muda pode se tornar um arbusto, um cactus, ou um carvalho gigante.

Dependendo da planta, ela te dará mais sementes para outras plantas crescerem. Assim que enraíza, é difícil se livrar da ideia. A única forma é transformando-a em palavras no papel.
Ter uma ideia é viciante, é difícil dormir ou acordar sem ela na cabeça. Ela irá te consumir até o último momento, quando você terminar a última linha da história, e só assim você poderá respirar tranquilamente.
Essa é minha experiência.
Em resumo, a Ideia é o primeiro passo, o ponto de onde a trama e os personagens irão se desenvolver. Uma ideiazinha simples é suficiente para começar qualquer história.
Como criar ideias?
Uma ideia pode ser qualquer coisa; pode vir de qualquer lugar.
Ideias estão ao nosso redor, só precisamos parar por um momento, olhar e ouvir. É muito mais sobre encontrar e desenvolver do que magicamente criar matéria do ar.
(Sim, ar também é matéria, blá, blá, blá…)
Você pode pensar que tem uma ideia original, mas em essencial, a maioria vem de coisas que experimentamos, normalmente com uma modificaçãozinha aqui e ali.
“Nada se cria, tudo se copia”
Clássico jargão, porém realmente legítimo.
MANTENHA OS OLHOS E OUVIDOS BEM ABERTOS! Essa é a dica mais importante que posso te dar para vida. Somos humanos, e tendemos a pensar como somos sensacionais. Minha mãe me falou que sou bonito, minha esposa que sou inteligente. Claro que elas estão certas, né?
A verdade é que, em essencial, seres humanos são primatas egoístas, autocentrados, irritantes e falantes, com basicamente capacidade nenhuma de olhar ao seu redor e ouvir o que as pessoas querem dizer sem interrompê-las a cada 2 segundos. Nós, escritores, temos de achar todas as formas possíveis de lutar contra essa necessidade de ser a última palavra de qualquer diálogo ou pensar que sabemos tudo.
A melhor forma de ter ideias é em prestar atenção ao mundo ao redor, escutar o que as pessoas têm a dizer, e fazer parte do momento. Não estou dizendo para você usar seus conhecidos apenas para conseguir ideias. Sempre seja respeitoso e nunca trate pessoas como objetos para seus fins. Seja genuinamente bom, e eu te garanto que apenas em ajudar o próximo, você terá todas as ideias para história que precisará para o resto da vida. Personagens, diálogos, conflitos… Tudo! Apenas ao olhar para o lado, verá um mundo colorido, cheio de cheiros e texturas. Isso é tudo que você precisará para criar seus próprios mundos literários.
Além do nosso redor, existem inúmeras fontes de ideias. Você pode achá-las em fóruns, no YouTube (por exemplo: listas de 10 coisas mais estranhas que já aconteceram em...), em pesquisa sobre pessoas e fatos reais, e finalmente, em qualquer história que você já tenha assistido ou lido do qual gostaria de um final ou desenvolvimento diferente. As opções são infinitas.
(Sim, “Fatos Reais” é pleonasmo, blá, blá, blá…)
A diferença de uma boa para uma má ideia é o Conflito.
Uma história boa vai te prender com Conflitos. Eles podem ser em forma de Confronto, situações de Risco, e Perguntas (Mistérios), contanto que tenha uma Contagem Regressiva (Deadline) para resolver o Conflito.
Seu público estará engajado contanto que você continue apimentando, aumentando o risco, e respondendo/criando mais perguntas. Estarei explorando essas ferramentas de narrativa em outros artigos.
Exemplo 1: Baseado na Minha vida.
Pense sobre a sua rotina. O que poderia acontecer de mais absurdo e quais as consequências? Como você se sentiria? Talvez essa ideia seja suficiente para você começar a devorar as teclas do seu notebook véio.
Penso em uma noite, voltando do trabalho para casa, onde algo realmente estranho poderia acontecer. Estou cansado, talvez estressado, querendo apenas uma comida quentinha e um beijo da minha esposa. Quando chego em casa, minha esposa está falando com alguém: tem um estranho na minha casa!
Ela não me viu, já que eu me esgueirei por trás da caixa de correio, com meu coração desconfiado em mãos.
Eu pensava, “com quem ela está falando?”
Até que eles se beijaram.
Desesperadamente, eu corri em direção da porta, tentando todas as chaves do chaveiro, mas a nada abria aquela maldita porta! Já não mais preocupado em ser discretl, toquei a campainha.
O Estranho veio até a porta e eu pensei “Quem é esse filho da puta, e porque ele esta na minha casa usando essa camisetinha regata tao casual? Quanta audácia!”
Foi aí que descobri que eu era o Estranho nesse conto trágico.
Minha esposa não me reconheceu. Ela se encolheu quando perdi a paciência, assustada como um cachorrinho, e logo o Estranho me chutou para fora da soleira, com todo o direito do mundo. Confuso e furioso, permaneci paralisado em frente a porta, e logo o estranho gritou seguido de sons de telefone: “Estou ligando para a Polícia!”
Eu dirigi de volta para o trabalho, afinal esse era meu último refúgio, e tudo aconteceu da mesma forma. Dessa vez, porém, os seguranças me subjugaram e mantiveram minha cabeça contra o chão até a polícia chegar…
O que poderia ter causado essa situação?
Quem sou eu, senão quem penso que sou?
Por que as pessoas não se lembram de mim? Mais importante, por que minha esposa, a pessoa com o qual divido minha vida e amor, não se lembra?
E assim por diante…

E você? Qual seria o dia mais estranho da sua vida?
Exemplo 2: Baseado na vida de um amigo
Uma vez ouvi esse causo estranho de uma amiga que perderá o pai no auge da pandemia. Além de perder da tragédia, ela descobriu que a emrprasa do pai, a única fonte de renda da família, estava falida, endividada. Para piorar, o dinheiro do fundo de garantia dos funcionários nunca havia sido depositado, e os empregados a estavam a ameaçando. Essa foi uma das histórias mais intrigantes que eu já ouvi, além de ser baseada 100% em fatos reais.
Abaixo estarei alterando alguns detalhes para proteger a privacidade dela.
Imagina se fosse o Marido dela que tivesse morrido, e alguém tivesse invadido sua casa e matado sua mãe por vingança? Quem é o vilão da história, o marido que roubara o fundo de garantia dos funcionários, ou o assassino?
E se ela ignorou a raiva dos empregados, e um desesperado entrou na casa dela para roubar alguma coisa de valor simplesmente porque a família dele estava passando fome, e ao ser surpreendido por alguém na casa, atirou matando assim a Mãe dessa personagem? Com certeza o assassino é culpado, porém, quem é responsável pela circunstância?
Grey Áreas são sensacionais, principalmente quando apresenta conflitos entre Bom e Mau, Culpado e Inocente, etc.
E você? Qual é a história mais estranha que ouviu de um amigo?
Exemplo 3: Baseado em algo desconhecido.
Se nada que você viu ou ouviu foi interessante, tente pesquisar no YouTube o “Top 10 coisas bizarras sem explicação”. Garanto que qualquer um dos clips pode se tornar uma história intrigante. Nada é melhor do que realidade quando o assunto é Mistério.
Por exemplo, existe uma filmagem de uma aparição em Goiânia que você pode encontrar nessas listas no YouTube. O video é sobre uma porta que fica abrindo apesar de estar trancada e guardada por dois seguranças. No final do clip, uma sombra branca passa pelos guardas, seguido de um som bestial. Claro, os autores do vídeo dizem que a história é REAL.
Que tal uma história de Universo Paralelo ao invés de Fantasmas, do qual aquele ponto em Goiânia é um dos muitos espalhados pela Terra onde dois universos estão tao próximos que você consegue dar uma espiadinha do outro lado. Que tal ao invés de focar em Horror ou Ficção Cientifica, fazer algo mais político, mais sobre a essência humana, como HBO's The Leftovers. Eu faria:
(O mais obvio), algumas pessoas acreditam nos espíritos e querem provar que existe vida após a morte;
a exploração financeira dos Pseudo Cientistas, tentando enganar o povo e ganhar dinheiro;
os céticos que querem provar que o vídeo é falso;
os verdadeiros cientistas que, normalmente arrogantes com relação a coisas não naturais, ignoram o fenômeno. Fenômeno esse que poderia provar a teoria das cordas de Heisenberg.
Como seria a interação desses 4 grupos?
E você? Qual é a coisa mais estranha e inexplicável que você já ouviu?
Em resumo, pense em todas as experiências ou meios de se obter uma boa história. De preferência, mantenha seus olhos e ouvidos abertos que as ideias viram até você.
Como desenvolver ideias
Ter ideias é o primeiro passo para começar a escrever. Porém, é importante notar que ideias não precisam ser grandes ou complexas. Tudo começa de forma simples e logo ela se desenvolverá conforme a sua atenção. A questão mais importante é o quão grande você quer que sua ideia se torne?
Ideias podem começar simples, como:
“Alguém matou meu cachorro.”
ou complexas como
“Existe um dispositivo que pode acessar o sonho, e uma empresa privada se especializou em implantar ideias nas cabeças das pessoas. A implicação econômica e psicológica dessa tecnologia…”
Tudo pode ser desenvolvido para qualquer tamanho. Por exemplo, o caso de “Alguém matou meu cachorro”:
Versão simples: A máfia matou meu cachorro já que eu não estava em casa. “Agora, vou me vingar!”
Versão complexa: Foi meu filho mais novo, sendo um psicopata. Eu não sabia, porém, quando descobri, ele já estava envolvido no assassinato de outras pessoas. O que eu faco agora? Mando ele para prisão ou faco de tudo para protegê-lo? Quem mais sabe que ele é um psicopata e até aonde vou para protegê-lo?
Ambos os exemplos já existem, sendo a versão simples a trama de “John Wick”, e a complexa do “Mare of Easttown”.
(Spoiler alert) Okay, esse último a criança não mata o cachorro, mas uma jovem, e ele não é um psicopata, só idiota mesmo.
A melhor forma para desenvolver ideias é fazendo perguntas.
Exemplo 4: “Alguém roubou meu cachorro”
O que aconteceu: Alguém roubou um cachorro;
Quem perdeu o cachorro: Um garoto com nível leve de autismo;
De onde veio o cachorro: O cachorro foi encontrado pelo garoto um ano antes do incidente, todo machucado e faminto;
Quem roubou o cachorro, e porque: O cachorro foi roubado pelo dono antigo, um veterano de guerra com TEPT;
Porque ele roubou o cachorro: O cachorro era seu companheiro que um dia fugiu e nunca mais voltou. Por anos o veterano o procurou em todo lugar, afinal era sua única companhia desde que sua filha morreu muitos anos atrás.
Onde eles vivem: Numa pequena cidade chamada Santa Bárbara d'Oeste;
Onde o garoto vive: O garoto vive com sua mãe solteira, que trabalha 2 empregos para manter a vida dos dois. Ela ama o garoto, mas é incapaz fisicamente de lidar com 2 empregos e uma criança especial.
Quando o cachorro foi roubado: A mãe fora chamada para uma entrevista e esquecera a porta dos fundos aberta. Essa entrevista era a última esperança para garantir o futuro de sua família. Era muito importante para ela ignorar!
Como o cachorro foi roubado: O dono antigo apareceu na casa do garoto para pedir seu cachorro de volta, porém não havia ninguém para atendê-lo. Sem saber se o cachorro era realmente dele, o velho deu a volta até o quintal e, esperando encontrar seu melhor amigo, chamou: “Chumbinho, Chumbinho?”
De repente o cachorro aparece, pulando desesperadamente, ao reconhecer o antigo dono. O velho veterano mal conseguiu segurar as lágrimas. Chumbinho tentou cavar para fora do quintal, chacoalhar a cerca, enquanto o veterano tentava puxar o portão, porém nada funcionava.
“O que eu faco?” O velho se perguntou, limpando o suor e as lágrimas do rosto. “Eu devo ter um pé de cabra no porta-malas!”
O veterano correu de volta para o carro, não se importando com o outro veículo que quase o atropelou ao atravessar a rua, e se enfiou no porta-malas, arrastando a mão de direita para a esquerda.
O velho estava tao concentrado, que mal notou quando cachorro apareceu e pulou sobre ele, como aquelas cenas de aeroportos onde soldados são recebidos pela esposa e a filha.
A verdade seja dita: Aquele veterano desprezava chorar, mesmo assim, como ele poderia segurar as lágrimas? O velho agarrou o cachorro, beijando-o, abrancando-o, enquanto Chumbinho o lambia do queixo a testa. Finalmente, aquele homem sofrido, que batalhava contra o álcool e o sono e a tristeza de ter perdido a filha, que lidava com as cenas traumatizantes da guerra, tão profundas em sua mente quanto o corte das cicatrizes em seu braco, finalmente sorriu novamente.
Sem pensar nas consequências, o velho pulou para dentro do carro, sem precisar pedir para Chumbinho fazer o mesmo, afinal o velho cachorrinho sabia o que fazer. Juntos, eles partiram, ambos exuberantes.
Qual e a mensagem da história: mostrar os problemas em ser uma criança estranha crescendo sem um suporte apropriado, e um homem que viu o pior da raca humana, vivendo com traumas e culpas, que também cresceu sem um suporte apropriado.
Nesse exemplo, o Conflito é simples: Quem tem o direito de ficar com o Chumbinho? E quanto ao que o Chumbinho iria querer? Nada é preto e branco; Não existem heróis ou vilões, apenas pessoas. Quem merece o Chumbinho, uma criança solitária com autismo, ou um depressivo veterano de guerra com um Transtorno do Estresse Pós-Traumático?
Como eu disse em artigos anteriores, a melhor forma de deixar uma ideia interessante é misturar diferentes elementos e gêneros. Você pode usar eventos históricos, elementos de outras histórias, mitologia, etc., além disso, misture diferentes (e não compatíveis) gêneros, e eu te garanto que terá bons resultados.
“As melhores coisas são a soma de pequenas partes juntas.” Disse Van Gogh.
Examplo 5: Stardust

Neil Gaiman (de novo) é um gênio! Em Stardust, ele pega a clássica fórmula da Aventura/Contos de fada e usa ideias simples para criar uma obra de arte. Em essência, é basicamente um Shrek (obviamente não é uma sátira contra a Disney e o "Padrao" de beleza).
De acordo com Neil, a ideia da história nasceu de:
— Uma vez, dirigindo pela Escócia, Neil viu um buraco num muro entre uma cidadezinha e um bosque;
— Uma vez, atendendo a um prêmio literário no Texas (que ele ganhou, by the way, pelo Sandman), ele viu uma estrela-cadente.
Quanto mais simples pode ser uma ideia?
Tirando os clichês, essa história é literalmente mágica. Os elementos que Neil usa (bruxas, unicórnios, fadas, horror, aventura) e os que ele cria (vela-teletransporte, a estrela ser uma garota ao invés de uma pedra) é o que torna a história original.
Stardust é um dos livros mais lindos que eu já li, mesmo tendo duas ideias simples e uma fórmula extremamente básica!
Além de usar elementos de outras histórias, misture gêneros ou formas criativas de usar a mídia. Se você esta escrevendo um livro, o que você pode colocar em palavras que dará a impressão do leitor estar consumindo outro tipo de mídia?
Exemplo 6: A Casa de Poeira

Na Casa de Poeira, tem um momento que tento passar confusão, desorientação. Minha forma foi espalhar palavras em torno da página, forcando ao leitor a girar a cabeça de um lado pro outro para entender o que está acontecendo, desorientando-os, fazendo-os se sentir na pele do herói. Em música, isso é chamado de “Word Painting”, usar a mídia de forma não convencional para expressar diferentes emoções.
Exemplo 7: Drácula e Horror em Amityville
Quantas vezes eu já citei Entre os Corredores Obscuros em artigos ou vídeos? Okay, falaremos então de Drácula e Horror em Amityville, do qual ambos usam formas não convencionais de prosa.
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O Primeiro, Bram Stocker usa diários, cartas e notícias de jornais, fazendo o leitor acreditar que está lendo recortes e fatos históricos. O Segundo, Jay Anson escreve o livro de forma jornalistica, como se uma pessoa imparcial estivesse apenas documentando fatos reais ocorridos na casa. A genialidade dessas escritoras força você a acreditar que tudo que você esta lendo realmente aconteceu, portanto, aumentando o nível de terror da história. Afinal, se aconteceu com Jonathan ou os Lutz, pode acontecer com você também!
Essas ferramentas de prosa não são limitadas a escrita. Uma coisa que é extremamente comum em filmes e séries é quebrar a “4.ª parede”, que é quando a personagem fala com o público diretamente, como num teatro ou diário (exemplos: Rick & Morty, House of Cards, Fleabag, etc)
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Em resumo, comece no básico. Ideias básicas podem crescer suficiente se você fizer as perguntas certas. O limite da história é o número de páginas que voce quer escrever (E essa meta é EXTREMAMENTE importante).
Misture elementos e gêneros, e ao fazê-lo, sua história ficara muito mais interessante.
Finalmente, use tantos Conflitos quanto você precisar para manter o engajamento!
Tamanho não é documento
Quantas páginas meu livro deve ter?
Essa pergunta parece bem simples, né? Quanto mais, melhor, certo?
ERRADO PRA CAR…!
Semprese vigie para saber até onde voce quer desenvolver sua trama. Existe perigo em histórias grandes. Como disse o Tio Ben:
“Com grandes Livros vem grandes Custos.”
Quanto mais você regar e fertilizar sua semente, mais irá crescer. Você pode questionar e questionar, e sua história crescerá infinitamente, mas será que isso é bom? Existe um ponto ideal entre o quanto sua história precisa crescer contra um monstro incontrolável.
Em termos práticos, quanto mais palavras e páginas, mais caro será a produção. Se você tem uma editora pagando seus custos, taca-lhe pau Marco veio!. Contudo, imagino que se você está lendo meu artigo, você não é nem famoso, nem rico, e provavelmente irá publicar seu livro independentemente. Portanto, tamanho importa, sim senhor!
Grandes obras dependem de grande gerenciamento. Na minha experiência, às vezes o custo de revisão e impressão desafiam sua intenção de começar a escrever. Além disso, dependendo do tamanho da sua obra, as pessoas podem fazer cara feia. Quantas vezes eu não ouvi: “Você está escrevendo um livro, ou a Bíblia” (Como se a Bíblia não fosse também um livro de ficção…)
Quando terminei a Casa de Poeira, meu manuscrito tinha 200.000 palavras e 750 páginas. Levei 1,5 anos para reduzir o trabalho para 125.000 palavras e 500 páginas. Mesmo assim, o custo editorial e de impressão ficaram bem salgados.
Entao, quantas páginas?
Normalmente um livro tem em torno de 80.000 palavras e menos de 300 páginas. Planeje para 100 páginas e de deixe a história se desenvolver sozinha. Ela simplesmente irá demandar mais páginas, então não tem porque ficar bitolado. O mais importante é cortar tudo desnecessário para sua história e trama.
“Arte é a eliminação do desnecessário.” Pablo Picasso disse uma vez.
ORIGINAL vs. PLÁGIO
Finalmente, quero falar sobre o grande elefante branco na sala: originalidade.
Como mencionei, e gritarei com todo ar do meu pulmão:
NÃO EXISTE ESSE NEGÓCIO DE "ALGO 100% ORIGINA"L!!!
Somos os objetos de nosso ambiente—tudo que lemos, assistimos e experienciamos moldará nossa narrativa. Não existe nada de errado em usar uma história que você ama como base para algo novo. Nunca deixe ninguém te enganar sobre isso. De fato, você simplesmente não consegue fugir de suas influências.
Criar algo completamente original, como um novo Gênero ou dinâmica entre herói e vilão, não garantirá que sua história seja boa. Pior ainda, não garantirá que sua história seja original.
Nada é original, e nada precisa ser. O único crime nessa historia é “PLAGIARISMO”
Não tentar ser original não significa que você deve COPIAR o trabalho e outra pessoa. Isso é crime, e completamente anti-ético. Estou dizendo que você não pode usar o trabalho de outra pessoa contanto que crie algo NOVO e com SENTIDO.
SENTIDO deveria ser o OBJETIVO PRINCIPAL de qualquer autor.
Sentido é algo que necessitamos por natureza: queremos ser surpreendidos com algo que nos toca o coração, nos faz pensar que conhecemos as personagens ou que aquilo poderia acontecer conosco.
Essa é a dica mais importante que posso dar para sua escrita: criação com propósito e amor vai sempre reverberar mais.
Não escreva para te deixar rico ou famoso, mas trazer sentido a vida das pessoas. Se você não está aberto ou com o coração no lugar certo, sua escrita não terá sentido nenhum e sua história será uma merda.
Portanto, de substância as suas obras.
Exemplo 8: 50 Tons de Cinza é um Fan-Fiction de Crepúsculo
E L James escreveu 50 Tons de Cinza como um Fan-Erótica da série Crepúsculo. Ainda assim, ela encontrou sentido e sua história evolui para debater diferentes dinâmicas de um relacionamento toxico. Para não ter conflitos de Copyrights, ela mudou tudo, incluindo o mundo e as personagens. Erika criou um New York Best Seller tao único que, se ela não tivesse admitido em entrevistas, ninguém ia saber que era um Rip-Off de Crepúsculo.
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Exemplo 9: Sandman & Christmas Caroll
Neil Gaiman (sim, eu sei) é conhecido por usar histórias e fatos populares para criar aventuras únicas. Em Sandman, ele usa personagens conhecidos como Cain e Abel, Constantine, a Morte, etc, e mesmo o próprio Sandman é uma cópia do Neil do Robert Smith (Vocalista do The Cure). A mitologia da história é um conto Alemão extremamente popular do E.T.A. Hoffman. Em resumo, 90% dos elementos da história não foram criados pelo Neil. Mesmo assim, sua criatividade e genialidade criou uma obra de arte Universal, que ressoa até hoje com quem lê. Por quê? Propósito, e um pouquinho de magia.
Em seu Masterclass, Neil faz um exercício usando Christmas Carol do Charles Dickens. Ele coloca a pergunta: “imagine se, quando Scrooge encontra o fantasma do Natal passado, a aparição diz que errou a casa e deveria estar assombrando o vizinho da frente?”
Como seria essa história?
Que histórias você conhece pensar nesse momento que, se mudasse um simples elemento, mudaria completamente a trama?
Exemplo 9: Smoke on the Water

A música Smoke on the Water (2nd mais conhecido riff de todos os tempos segundo a revista Guitar Player) do Deep Purple é uma cópia da 5a sinfonia de Beethoven. A diferenca é que é tocado de trás pra frente, num tom (original é em C menor ao inves de G) e tempo diferente.
Você acha que Smoke on the Water é um Plágio?
Claro que nao!
Ritchie Blackmore é um gênio que usou algo que ele amava como base de uma das músicas mais famosas de todos os tempos.
Em resumo, não plagie ou perpetue o mito de que uma obra “tem que ser original para ser boa”. Use histórias, lugares e personagens que você ama. Mude-os e use-os em suas histórias para torná-las mais ricas! Ao invés de tentar criar uma obra completamente original, foque no sentido, no propósito, trazendo suas experiências e sentimentos para a história.
Para fechar o artigo:
Ideias são a essência da história. Comece simples e a desenvolva usando perguntas;
Use suas experiências pessoas para encontrar ideias. Pare, olha ao seu redor, ouça outras pessoas e suas histórias, e principalmente seja respeitoso. Essa é dica mais importante que dou para sua vida;
Diferentes elementos (como mitologia, gêneros, word-painting, etc.) deixarão sua história mais interessante. Quanto mais você misturas, mais sua prosa será rica;
Se você é um escritor independente, cuidado com o número de páginas. Lembre-se: “com grandes Livros vem grandes Custos”;
Usar outras obras como base é legal, porém Plágio não! É um crime, anti-ético, e você só seria um idiota egoísta se o fizesse;
Não ligue para ser original. Apenas traga sentido e propósito para suas histórias. Essa é dica mais importante que dou para sua escrita;
E é isso ai. No próximo artigo falaremos sobre os 2 métodos para se escrever, seus pontos positivos e negativos, e como usá-los a seu favor.
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